- CAROLINE FUKUMOTO -
Segundo o Dicionário Houaiss, o verbete brinquedo significa objeto de brincar, mas também se refere a jogo, distração. Entretanto, para melhor compreensão trazemos a fala de Gilles Brougére no que diz respeito à brincadeira, A função do brinquedo é a brincadeira. Mas, desse modo, definimos um uso preciso.
A brincadeira não pertence à ordem do não funcional. Por detrás da brincadeira, é muito difícil descobrir uma função que poderíamos descrever com precisão: a brincadeira escapa a qualquer função precisa e é, sem dúvida, esse fato que a definiu, tradicionalmente, em torno das ideias de gratuidade e até de futilidade. E na verdade, o que caracteriza a brincadeira é que ela pode fabricar seus objetos, em especial, desviando de seu uso habitual os objetos que cercam a criança, além do mais, é uma atividade livre que não pode ser delimitada. Ainda de acordo com o pesquisador Gilles Brougére (2010) há uma distinção entre brinquedo e jogo. O jogo possui uma função específica, como por exemplo, o princípio de construção (encaixe e montagem) para peças de um jogo de construção. Por outro lado, o brinquedo é um “objeto que a criança manipula livremente sem estar condicionado às regras ou a princípios de utilização de outra natureza”. O brinquedo é relacionado a um objeto infantil, enquanto o jogo pode ser relacionado a crianças e adultos.
“Os objetos lúdicos dos adultos são chamados exclusivamente de jogos, assim pela sua função lúdica”. De acordo com Daniela Girotto (2013), o brinquedo foi se modificando com o passar dos séculos. Ele passou de ritualístico e sagrado para as festas do cotidiano mais relacionado ao momento de lazer e diversão das crianças. Ele deixou de ser manufaturado artesanalmente e transmitido de geração em geração, os brinquedos passam a ser industrializados e incorporar aspectos tecnológicos em alguns casos.
Nesse contexto, o brinquedo pode servir para exercitar algumas competências necessárias a uma sociedade ou pode servir ao entretenimento. Alguns brinquedos atuais são objetos de diversão, entretenimento, conhecimento, relação da criança com o mundo, é como se o brinquedo fosse completo, mas sabemos da necessidade de aprender a brincar com o outro. Aprendemos a brincar com nossos pais, e nossas brincadeiras estão dentro de um contexto cultural de uma determinada sociedade.
Por esta razão achamos importante destacar um parágrafo do texto de Daniela Girotto que explica o que é humanização Humanização aqui refere-se ao aculturamento, à civilidade, à
capacidade de relacionar-se e identificar-se com os outros de seu entorno, compreendendo seus valores, suas regras e fazendo parte de um grupo social. Para isso é preciso o convívio em diferentes grupos, seja família ou a escola, a constituição de relações significativas suficientemente duradouras e profundas.
Acreditamos que o brincar pode proporcionar essa humanização as crianças para que se tornem adultos saudáveis, contribuindo para formação de uma sociedade mais sadia. O brincar pode ser uma forma de curar muitos males modernos, a brincadeira também pode ser considerada uma forma de revolução da criança - menção da fala de Lygia Hortélio no filme Tarja Branca.
Tipos de brinquedos
A partir de pesquisa levantamos a existência de muitos tipos de brinquedo. São inúmeras possibilidades de categorização. A seguir indicaremos o nome da categoria, breve descrição e fonte.
Jogos x brinquedo (Gilles Brougére)
O jogo possui regras e o brinquedo pode ser manipulado livremente.
Jogos de escolha (Adriana Klisys)
São formas de decidir quem começa um jogo. Ex: Lá em cima do piano, par ou ímpar, jô quem pô etc.
Jogos de faz de conta (Adriana Klisys)
Jogo inventado pela criança caracterizado pela capacidade de representar, simbolizar. Faz de conta que eu era uma fada, bruxa, princesa etc. Ex: um saquinho de leite ser um bebê.
Jogos de habilidade e destreza (Adriana Klisys)
Jogos relacionados à construção e aperfeiçoamento de suas habilidades motoras e relacionais. Ex: pular elástico, corda, jogar pião e bolinha de gude etc.
Jogos de tabuleiro, dados e cartas (Adriana Klisys)
São jogos que utilizam objetos como tabuleiro, dados e cartas para seu desenvolvimento entre os participantes.
Curiosidades:
O jogo mancala é o provável antecessor de todos os jogos de tabuleiro.
Xadrez e dama são passatempos medievais.
Os jogos tinham um caráter divinatório e religioso de comunicação com os
deuses. Atualmente o dado de seis faces tem um padrão de fabricação e é utilizado como componente fundamental de vários jogos. A referência mais antiga encontrada a respeito de jogo de cartas ocorreu na dinastia Tang chinesa (618-907)
Brinquedo com materiais da natureza (Adelsin)
São brinquedos inventados utilizando recursos disponíveis na natureza.
Ex: um sabugo de milho que vira boneca ou um capim que vira flecha.
Brinquedo com materiais reaproveitados (Talita Dias Miranda e Silva)
São brinquedos confeccionados com materiais como garrafa pet, jornal e outros materiais.
Brinquedos com materiais não estruturados (Labrimp da Feusp)
São brinquedos que podem ser inventados utilizando os materiais não estruturados. Tais como: cones, carretéis, madeiras, caixas de papelão, conduítes, tecidos, elásticos, pneus, elementos da natureza, entre outros.
Brinquedos silentes (Lygia Hortélio)
Os brinquedos silentes acontecem no silêncio.
Exemplos: amarelinha, jogo de bolinha de gude, ou brinquedo de papagaio
Brinquedos sonorosos (Lygia Hortélio)
Os brinquedos sonorosos são aqueles cuja ação é movida pelo som.
Exemplos: parlenda, cantilena e cantiga, como por exemplo, uni duni tê, uma velha, muito velha, Senhora Dona Sancha ou noTrês, três passará.
Há distinções dentro dessa categoria: brinquedos cantados e brinquedos ritmados. Os brinquedos cantados são aqueles que têm uma cantiga (acalantos, brincadeiras de escolha, brincadeira de roda etc). Os brinquedos ritmados são regidos pelo impulso dos ritmos das palavras (corda, elástico, mão etc).
Além desses, há algumas variações como, por exemplo: brinquedos rítmicos melódicos e brinquedo melódico ritmado. A diferença está na ênfase maior ou menor no teor da melodia ou de ritmo. Segundo Lygia Hortélio é possível perceber a sequência cronológica de ocorrência dos brinquedos sonorosos na vida de uma criança ao longo do tempo – canções de ninar, brincos ou brinquedos com os pequeninos, brinquedo dos pequenos, brinquedos dos maiores, as rodas de verso, brinquedos tradicionais e da Cultura contemporânea, histórias cantadas ou cantigas. Os brinquedos sonorosos constituem o repertório da Música Tradicional da Infância- Música da Cultura Infantil Brasileira, que deve ser valorizada!
Brinquedos cantados ou Brincadeira Cantada (Maristela Loureiro e Ana Tatit)
As autoras apontam algumas opções de brincadeiras cantadas diferentes das brincadeiras citadas por Lygia Hortélio. São elas: acumulativas, cânones, desafios rítmico e melódico, quodlibet- combinação de melodias populares cantadas simultaneamente, canções que falam de animais, de medo, canções de ninar, de festas e danças brasileiras.
Ex de acumulativas: fui visitar minha tia em Marrocos.
Ex de cânones: chaá,a,a.
https://www.youtube.com/watch?v=Y8NsLEVnPyw
Ex de quodlibet: bão, balalão, boi da cara preta e marcha soldado.
Ex de canções que falam de animais: xô meu sabiá
Ex de canções de medo: murucututu.
https://www.youtube.com/watch?v=TkAT_sq6pZU
Ex de festas e danças brasileiras: ciranda
Referências bibliográficas
ADELSIN. Barangandão Natureza. Ed. Peirópolis, 2013.
BROUGÉRE, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 2010.
KLISYS, Adriana. Quer jogar? São Paulo: Edições SESC SP, 2010.
LOUREIRO, Maristela; TATIT, Ana. Brincadeiras cantadas de cá e de lá. São Paulo:
Editora Melhoramentos, 2013 (Brinco e Canto).
SILVA, Lucilene. Eu vi as três meninas: música tradicional da infância na Aldeia de
Carapicuíba. Carapicuíba, SP: Zerinho ou Um. 2014.
SILVA, Talita Dias Miranda e. Brincando de construir bonecos com sucata e
papelagem. PONTÃO DE CULTURA. FE-USP, 2009.
Link consultado em 12/12/19
Tarja Branca
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-229187/trailer-19538718/
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