- Sonia Cristina Tristão -
Até que ponto o cuidado é necessário? Podemos permitir, ir além? Se o desenvolvimento se torna maior ao correr riscos, devemos ou não permitir que isso aconteça? Alguns deles são eminentes, com os quais os cuidados maiores são necessários, mas como conseguimos medir isso? Se para cada pessoa a noção de riscos e perigos são diferentes. Eu particularmente sempre incentivei o risco, como você vai aprender a andar de bicicleta se não puder cair, ralar o joelho, levantar e continuar? Quantos tombos acontecem quando a criança começa o engatinhar até o andar, longa jornada e muitas quedas.
O brincar de bola, o pular corda, a corrida, chorar faz parte da vida, chora, mas não precisa desistir. Tem pessoas que verdadeiramente me irritam...caiu, machucou...tiram o brinquedo e não deixam mais a criança aprender. Como se pudesse estar o tempo todo cuidando e evitando tudo que pudesse acontecer. Grande erro. Imagina se as pessoas desistissem no primeiro obstáculo que encontrassem pela frente, o que seríamos hoje? Já parou para pensar o quanto isso é importante e muitas vezes não nos damos conta. Correr riscos é necessário, o medo existe para que nos tornemos um pouco mais conscientes que é preciso ter cuidado, mas não deixar de fazer, ir, ou o que quer que seja.
Cuidar é necessário, mas orientando e ir deixando as coisas acontecerem naturalmente. Avaliar os graus de riscos e benefícios que aquilo pode causar, as consequências de momento e futuras para a vida. Segundo Tim Gill (2007) fazer uma avaliação de riscos e benefícios é necessário para qualquer evento que venha a acontecer, convidando todas as partes envolvidas. Abaixo um modelo de avaliação, como não consegui copiar o arquivo original, digitei no Word as informações. Isso não vai evitar que alguma coisa venha a acontecer, fuja do controle, mas com certeza minimiza os problemas.
Cito aqui uma classificação com 25 coisas que os pequenos aprendem enquanto brincam apontados por Ana Clara Oliveira:
1. Expressar os sentimentos e emoções;
2. Imaginar, fantasiar e criar;
3. Desenvolver a atenção, a concentração e a lógica;
4. Dar sentido e representar o que vivencia e como vê o mundo;
5. Organizar os pensamentos;
6. Aprimorar o repertório oral, contribuindo com a aquisição da linguagem;
7. Refletir e antecipar tomadas de decisões;
8. Compreender e atuar de acordo com regras;
9. Adquirir consciência corporal;
10. Aprender sobre autocontrole;
11. Conhecer seus limites e potencialidades;
12. Aprimorar os movimentos refinados;
13. Aprender sobre superação e sobre a importância de enfrentar obstáculos;
14. Respeitar os outros e a si mesmo;
15. Cooperar e compartilhar;
16. Lidar com frustrações;
17. Desenvolver a empatia e a resiliência;
18. Socializar;
19. Negociar;
20. Dividir tarefas e papéis;
21. Experimentar modos diferentes de agir;
22. Enfrentar medos;
23. Aprender sobre o mundo social e sobre as emoções vivenciadas nas diferentes relações;
24. Explorar a criatividade;
25. Trabalhar a sensibilidade e a comunicação.
Isso é simplesmente maravilhoso! O quanto de coisas que se aprende enquanto se diverte com certeza faz com que a criança tenha um horizonte tão ampliado, que consiga passar pela vida com mais leveza, pois experimentou emoções tão diferenciadas que vai saber lidar com as adversidades da vida com maior tranquilidade. Tem uma base mais sólida, e segurança de como precisa agir para resolver o que se apresenta.
Segundo Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo do aluno se dá por meio da interação social, ou seja, de sua interação com outros indivíduos e com o meio. Para substancialidade, no mínimo duas pessoas devem estar envolvidas ativamente trocando experiência e ideias. A interação entre os indivíduos possibilita a geração de novas experiências e conhecimento. A aprendizagem é uma experiência social, mediada pela utilização de instrumentos e signos, de acordo com os conceitos utilizados pelo próprio autor. Um signo, dessa forma, seria algo que significaria alguma coisa para o indivíduo, como a linguagem falada e a escrita.
Vygotsky (1991) critica a forma parcelada de se enxergar o desenvolvimento humano. Para o autor só poderemos compreender o desenvolvimento infantil observando o seu conjunto. Ao estratificá-lo em aspectos e estágios estamos comprometendo a visão das áreas potenciais de uma criança.
E, no que se refere ao brincar, Melo e Valle (2005) afirmam que o brinquedo possibilita o desenvolvimento infantil em todas as dimensões, o que inclui a atividade física, a estimulação intelectual e a socialização. As autoras continuam indagando que a brincadeira promove a educação para hábitos da vida diária, enriquece a percepção, desperta interesses, satisfaz a necessidade afetiva e permite o domínio das ansiedades e angústias. Além disso a brincadeira pode ser uma eficaz ferramenta a ser utilizada para estimular e promover a aprendizagem das crianças (CORDAZZO, 2003). Mesmo sendo complexo e talvez inviável pesquisar a brincadeira e o desenvolvimento infantil em todos os seus aspectos, os pesquisadores devem ficar atentos à visão global e não parcial do desenvolvimento humano.
Concordo com os autores, pois quanto mais pessoas se conhece e mais lugares se frequenta a possibilidade de aprendizado se tornam muito mais ampla e tudo que envolve o contexto onde a criança está inserida é importante para que ela tenha um melhor desenvolvimento.
Considerações Finais
Com esse trabalho consegui ter mais certeza do quanto o brincar engrandece a vida em todos os sentidos, desenvolve, agrega, ensina, modifica, esclarece, melhora, amplia, direciona, cria possibilidades e muito mais, que o correr riscos faz com que a criança se torne mais apta em suas atividades, tenha um controle mais afinado para direcionar suas atitudes e emoções.
E ao mensurar os riscos, nos preparamos para que a possibilidade de cometer erros também sejam menores e para que possamos permitir que as crianças tenham mais liberdade no brincar.
Referencias:
Sites:
Artigo publicado por Scheila Tatiana Duarte Cordazzo; Mauro Luís Vieira no site: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812007000100009
Citações
Gill, Tim - Livro "No Fear: Growing up in a risk averse society" (em português, Sem medo: crescer numa sociedade com aversão ao risco) foi publicado em 2007, website : www.rethinkingchildhood.com.
Oliveira, Ana Clara Jornalista e autora no Blog da Leiturinha, é fascinada por tudo que envolve o mundo da leitura, da educação e da infância. Acredita que as palavras aproximam pessoas, libertam a imaginação e modificam realidades. Gosta de escrever, viajar e aprender sempre.
CORDAZZO, S.T.D Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
Vieira, M.L. Professor Doutor do Departamento de Pós-Graduação em Psicologia da UFSC
VYGOTSKY, Lev Semenovich Formou-se em Direito, História e Filosofia nas Universidades de Moscou e A. L. Shanyavskii, respectivamente.
MELO, Luciana de Lione Enfermeira. Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP, Brasil. lulione@fcm.unicamp.br
VALLE, Elizabeth Ranier Martins do. Psicóloga. Professora Livre-Docente do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, SP, Brasil.bethvale@eerp.usp.br
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