- Ingrid Huanca -
Grande parte da minha infância foi ao lado de uma prima distante, passei a maior parte do tempo com ela, sempre brincávamos, minha brincadeira favorita era com água. No carnaval gostávamos de encher bexigas com água e jogar uma na outra, além das bexigas gostávamos de brincar com espuma.
Os carnavais eram sempre assim, e as vezes o carnaval caia no dia do meu aniversário ou na véspera, então a galera jogava água em mim, era muito engraçado e divertido ao mesmo tempo.
Quando mudamos de casa eu entrei na escola e comecei a me socializar com outras crianças. Na escola, além das nossas atividades diárias, brincávamos e realizávamos atividades extra curriculares, tínhamos Artes Plásticas – aprendíamos a bordar e a fazer outras coisas, era muito divertido.
No intervalo levávamos nossos brinquedos e brincávamos. Nosso pátio não era coberto por grades, era semelhante a uma varanda. Certo dia meu brinquedo caiu no telhado da casa do vizinho, foi uma loucura tentar recuperar o brinquedo, mas infelizmente não o recuperei, ficou lá. Grande parte dos brinquedos das crianças caiam e ficavam ai.
Na volta para casa, brincava com meus amigos, nós brincávamos de correr ou de esconde-esconde, era uma brincadeira atrás da outra, as vezes escorregávamos no corrimão dos degraus que há no trajeto.Especificamente no final da rua há uns degraus que dão acesso à rua de baixo. Sempre que tínhamos a possibilidade de ir à escola por esse caminho aproveitávamos a oportunidade para escorregar. Só havia um problema, conforme nos escorregávamos nossas roupas acabavam envelhecendo subitamente.
Quando chegava em casa, ficava com minha tataravó, ela cuidava de mim enquanto meus pais iam ao trabalho, mas quando minha tataravó não encontrava-se em casa, eu saia e ficava brincando com as crianças da vizinhança.
Brincávamos de faz-de-conta em frente a porta de casa, levava cobertores e brincávamos de casinha, as pedrinhas tornavam-se nosso dinheiro, as plantinhas nosso legumes, entre outros. Cada criança trazia seu brinquedo e nós brincávamos com os que havia, era uma alegria e tanto. As brincadeiras sempre ocorriam depois da escola e nos finais de semana quando não tínhamos o que fazer em casa.Quando não havia a possibilidade de levar os cobertores, brincávamos de detetive e ladrão, pega-pega, esconde-esconde, brincadeiras que não requerem materiais físicos, só bastava a presença que já era o suficiente. Eram tantas as brincadeiras das quais não me recordo muito bem.
Quando as crianças da vizinhança ficavam ocupadas pelos afazeres, eu e meu cachorro caminhávamos até uma montanha que fica em frente de casa. Atrás da montanha havia um pequeno parque e ao lado uma pequena delegacia. Era incrível sentir o vento que soprava no decorrer do caminho, sentir o ar da natureza, me sentia uma exploradora por ter tanta liberdade.
Em muitas ocasiões meus pais me levavam ao Parque Laikacota ou no Parque Urbano Central, localizado no centro da cidade de La Paz. Lá passávamos horas brincando e nos divertindo. Há um Crocodilo com a boca aberta e de dentro do crocodilo há um tobogã, há também um grande escorregador, onde muitas crianças e adultos brincam juntos. Uma vez fui ao parque com minha prima e minha tia. Brincando na boca do crocodilo acabei me perdendo, mas logo me encontraram, brincamos bastante, subimos no escorregador gigante e a diversão vai ao final da noite.
O parque trás recordações bonitas, só de você estar lá, você consegue ver a alegria das pessoas, o sorriso de orelha a orelha, crianças se divertindo com seus pais e familiares.
No natal então tanto o parque Laikacota e o Parque Urbano central ficam lotados, o Parque Urbano Central deixa de ser chamado Parque Urbano Central e passa a ser chamado “La Feria Navideña” (A Feira Natalina) Há um grande número de pessoas que se concentram e realizam brincadeiras, há vários artefatos natalinos que são vendidos, há mas de 40 quiosques, fora os de alimentação e jogos. No parque há um setor onde só há jogos, ex: Canaleta, Sorte Branca, Bingo, Jogos de Mesa, Carrosséis, Carrinhos de choque (bate-bate) e várias outras atrações.
O Natal e o Ano Novo é uma data que aproxima familiares distantes e reúne a família. Lembro-me de uma vez após a comemoração eu e meus tios ficamos até altas horas da noite jogando o banco imobiliário. Certo dia minha tataravó me deu de presente no meu aniversário, um skate, eu era apaixonada pelo skate amarelo, bem diferente dos outros. Sempre que encontrava um local adequado para patinar eu patinava, as vezes minha prima vinha me visitar, ficávamos altas horas na rua.
Recentemente fomos ao Vale da Lua, também localizado na cidade de La Paz, lá brincamos de esconde-esconde, por situar-se em montanhas rochosas era difícil de alguém se encontrar, com forme brincávamos também conhecíamos o lugar.
Em 2018 realizei um voluntariado em uma Instituição sem fins lucrativos, com o objetivo de aprender novas formas de atuar na área da educação. Estava sendo realizado a semana da recreação, onde especificamente as crianças brincariam e conheceriam novas brincadeiras uma delas o Carrinho de Rolimã.
Essa semana ajudou muito as crianças a conhecerem novas brincadeiras, ajudou no desenvolvimento, na socialização, no respeito mútuo.
Quando estudava a noite, na hora do intervalo tínhamos o habito de jogar dominó, era risada pra cá e risada pra lá.
A brincadeira ajuda no desenvolvimento da criança, os jogos, as brincadeiras, os brinquedos o faz-de-conta é uma forma diferente de expressão usada pelas crianças. No brincar as crianças tem a maior liberdade de expressão, ao brincar a criança vivencia um novo cenário, obtendo uma dimensão imaginária e criativa da sociedade.
De acordo com o autor Winnicott (1975, p.80)
É o brincar, somente no brincar, que o indivíduo criança ou adulto pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu.
A criança se auto conhece quando brinca, é através das brincadeiras que organiza seus pensamento. Não é só uma brincadeira mas sim uma forma de ensinar valores de uma maneira agradável, possibilitando a criança de aprender de forma prazerosa.
“O jogo transita entre o mundo interno e o real “(FORTUNA ,2000,P.2)
Com o brincar a criança transmite valores, aprende valores, que contribuem ao seu desenvolvimento. A criança ao divertir-se viaja sem sair do lugar, usa apenas a imaginação, como por exemplo o cabo de vassoura pode ser o seu cavalo ou ainda pode ser sua espada, a imaginação é ilimitada e não se restringe a uma regra.
As brincadeiras são atividades fundamentais para que se desenvolva a autonomia, a identidade da criança e o seu imaginário. (Colunista Portal – Educação) Segundo o Portal – Educação, o imaginário desenvolve a autonomia da criança e a construção da identidade. Já para Friedmann (1996, p.70). É possível, a partir do jogo, ter um amplo panorama de informações.
A criança ao brincar gesticula informações sendo elas a forma como a brincadeira funciona, o que é necessário para que a brincadeira possa ser jogada, por essas premissas é necessário estar ao tanto de tais informações para que possa ser feito um acompanhamento a criança. O brincar ajuda no desenvolvimento da linguagem, quando uma criança não brinca, ou parece inibida, é sinal de que algo em seu desenvolvimento não está bem, com o jogo a criança coloca o pensamento em prática, aprende e desenvolve suas estruturas cognitivas ao lidar com jogos de regras.
REFERÊNCIAS
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/o-ludico-versus-novas-tecnologias/35178
https://docplayer.com.br/47858353-A-importancia-do-ludico-no-processo-ensino-aprendizagem.html