- Rosana Serafim de Abreu Silva Furtado -
Interessante pensar no brincar nesta altura da minha vida, preciso sim voltar a minha infância, para entender o significado para mim. Brincar sempre foi um processo, cheio de rituais e extremamente prazeroso. Meu pai construiu uma casinha de madeira (um barracão pequeno), onde era nosso lugar de brincar, embaixo da garagem. Um dia antes da brincadeira eu fazia o barro e moldava de panelas a pratos e no dia seguinte, já secos, eram usados para fazer a comidinha, o orégano era as folhas secas do chuchu… Muito bom! Pronto. É isso brincar é muito bom!
Não posso deixar de falar também dos tratores do meu irmão, que tinham seis botões que eu fingia que era máquina de escrever, afinal a minha vida inteira eu sonhei ser secretária, até descobrir aos 17 que eu queria ser fisioterapeuta, ajudar gente a se reabilitar, ter uma vida melhor. Já na faculdade de fisioterapia resolvi cursar ortóptica e descobri em uma aula que bebês com deficiência visual era o meu mundo, meu caminho. E eu estava certa, pelo menos até agora, 33 anos depois. Assim que me formei, Laramara – Associação Brasileira de Assistência a pessoa com Deficiência visual, um local novo, com uma abordagem diferente chamou minha atenção, fui conhecer e para minha surpresa comecei a trabalhar lá aos 24 anos. Qual era o foco da Laramara?
BRINCAR!
E foi aí que a INCLUSÃO entrou em minha vida. Aprender, ou melhor, relembrar o quanto o brincar é MUITO BOM, inclusive para a criança com deficiência visual e para aquelas com deficiência múltipla mais ainda. Logo no começo tive uma missão importantíssima: Me tornar BRINQUEDISTA e fazer o projeto da Brinquedoteca da Laramara, aceitei o desafio e criamos, eu e a Célia a LARABRINQ.
O quanto nossas crianças de Laramara eram atendidas em diversas terapias, faziam consultas, exames e mais atendimentos e ainda vinham na Laramara para… BRINCAR!
Convencer a criança do valor da brincadeira e dos brinquedos era fácil, o difícil era convencer a família, que vinha de longe e muitas vezes dizia “brincar ele brinca em casa”. Geralmente, era balançar o mesmo chocalho diariamente, sozinho. Assim fomos aprendendo juntas a mediar o brincar, o quanto o papel do adulto ou de outra criança é essencial para brincar de verdade.
Com o passar do tempo, a família empoderada, já sabia como brincar com seus filho, mas como fazê-lo participar, ser incluído, junto com crianças com desenvolvimento típico? E na escola regular?
Simples (só que não), vamos transformar as brincadeiras em INCLUSIVAS, não brincadeiras específicas para a criança com deficiência e sim brincadeiras para TODAS as crianças, inclusive para aquelas que tem uma deficiência.
E é essa a minha profissão: uma fisioterapeuta, quase ortopedista, que media a relação da família com sua criança principalmente no momento de brincar.
Será que estou oferecendo o melhor para todos eles?
Posso fazer MELHOR??
Sempre me perguntava isso ao acordar. Foi quando vi o título desse curso: Mediador do Brincar Inclusivo…. É ISSO!!!!
Vim para o curso buscar novos olhares e novas ideias para implementar brincadeiras em meu trabalho.
Na primeira aula, adorei a abordagem da história da deficiência e da inclusão, usar desenhos, dividir em grupo, foi uma grande brincadeira. Ótimo começo.
Nas aulas seguintes foi muito bom ver professores tão envolvidos no brincar e brincadeiras, com criatividade e muito respeito ao conhecimento e a individualidade de cada um, trouxeram brincadeiras convidativas e o grupo participou ativamente de tudo. A cada aula os mediadores do brincar, professores que pensam e sabem brincar e chamar para brincar, novos mediadores iam se formando, todo mundo se divertindo e aprendendo.
Mas eu sentia falta do brincar INCLUSIVO, em vários momentos questionei sobre formas de transformar a brincadeira para todos, inclusive durante a brincadeira na sala, onde surgiram limitações físicas entre os alunos, muitos saiam da brincadeira “para não atrapalhar”.
Ah… o grupo!!! Nunca vi tanta gente disposta, interessada em aprender, aberta ao novo. Na minha angústia, queria que o professor lançasse aos alunos o olhar para a inclusão: E aí? Como ficaria essa brincadeira para quem não enxerga, para quem não compreende as regras, para quem não vai segurar a mão do colega, para quem odeia ser tocado por um estranho?
A aula da Dra Brincadeira foi realmente muito boa, para que todos pensassem no brincar terapêutico, na brincadeira para conseguir objetivos específicos, aquisições motoras. Colocou todo mundo para pensar em adaptações possíveis para a brincadeira.
O curso foi realmente muito bom, um COMEÇO! Gostaria muito que houvesse o intermediário e o avançado!!
Se eu pudesse sugerir algo, seria duas aulas para cada professor, a primeira aula foi perfeita, com o histórico, viria a da Dafne com o brincar terapêutico, depois o Anderson, com o olhar para a pessoa com deficiência e sua família – afinal no dia a dia a família tem que ser a MEDIADORA DO BRINCAR INCLUSIVO, pois ela que vai promover a participação efetiva dela na comunidade e na escola. Depois viriam as brincadeiras, pois os colegas, já dominariam o tema, conseguiriam pensar na inclusão nas brincadeiras apresentadas.
Não posso dizer que mudou meu olhar, acho que acentuou a minha crença no brincar para toda e qualquer criança, seja ela um adulto, um idoso ou uma criança mesmo. Me deixou com um gostinho de quero mais e me levou mais ainda a pensar no brincar COMO FORMA DE INCLUSÃO: Da pessoa com deficiência, da família da criança com deficiência, da pessoa com problemas sociais, maus tratos, miséria, situação de rua, marginalizados…
Me dá a certeza da importância do brincar e da brincadeira para melhorar não só nosso Brasil, mas o mundo.
OBS: Quem dera toda escola tivesse pessoas tão abertas ao aprendizado e ao brincar. Tenho muito orgulho de ter conhecido e feito parte de um grupo unido e feliz por estar em um curso no sábado de manhã. E sabe o que mais? Bom demais conhecer a Luciana, com sua postura respeitosa, acolhedora e carinhosa. Bela escolha!
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